É SÓ FAZER AS CONTAS

Sabe aquele dito popular? “Quem conta um conto aumenta um ponto”? Pois no caso de Parintins, quem contou os contos dos festivais aumentou os pontos e os títulos.

Não caberia a minha pessoa fazer essa pesquisa, aliás nem precisaria de pesquisa, afinal o que aconteceu já deveria “estar gravado na história da tua memória“. Porém, após alguns poucos anos apoiando o setor de disputas do Caprichoso e sendo eu da área de exatas, sabia que havia algo de errado nessa contagem de títulos. Estava tudo muito descolado de qualquer realidade e qualquer lógica aplicável.

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O que ELES falam e TODOS, TODOS REPETEM:

CAPRICHOSO 25 x 32 GARANTIDO

* contagem de títulos por cada boi, segundo o que a militância digital vermelha conseguiu propagar e divulgar massivamente.


E quando me refiro a todos repetirem e propagarem esses números, me refiro a cada torcedor rubro ou azulado, mas também me refiro a veículos de imprensa oficial ou não, da Wikipedia para citar fontes não acadêmicas. Contudo, essa contagem já transbordou para a academia, sendo vista até mesmo em artigos acadêmicos recentes. Enfim, TODOS repetem essa fake news como se fosse de fato verdadeira. Tudo bem, que é difícil encontrar fontes seguras e não somente orais para assumir qualquer resultado que não o divulgado por um boi (apenas um boi). Mas será se ninguém da imprensa ou mesmo da academia se deu ao trabalho de fazer uma conta simples?

25 TÍTULOS DO CAPRICHOSO + 32 DO GARANTIDO = 57 TÍTULOS

Agora reflita com essa afirmativa lógica:
Se existem 57 títulos é porque tiveram 57 disputas, certo?

Preciso te contar uma coisa:
Não tivemos 57 disputas!


Pois bem, vamos começar pelos Festivais:

  • O primeiro festival folclórico aconteceu em 1965
  • Até 2023, portanto, deveriam ter sido realizados 59 festivais
    • Só que em dois anos, não tivemos festival (2020 e 2021)
  • Portanto, temos 57 festivais realizados!
    • Mas no primeiro os bois sequer se apresentaram (1965)
    • Em outros dois festivais sequer houve disputa (1966, 1983)
    • Em todos esses anos, houve somente um único empate (2000)

Pois bem, sabemos agora que foram realizados 57 festivais
E que em 3 não houve disputas por títulos

Significa dizer, portanto, que somente houve disputas em 54 festivais
(afinal 57 festivais totais 3 festivais sem disputa = 54 festivais com disputa).

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Ora, SE somente 54 festivais foram disputados,
ENTÃO somente 54 festivais valeram títulos!

Por isso, ficam aqui as perguntas que não posso deixar calar:
1) Como podem os bois, somados, terem 57 títulos de apenas 54 disputados?
2) De onde inventaram esses títulos a mais?

Aí você pode até falar: Ah cara, mas teve um empate!
E eu te respondo que mesmo com o empate, ainda ficam sobrando alguns troféus imaginários
Ou seja, tem alguém ganhando título contando um conto e aumentando um ponto.


Como demonstrado, basta o uso de matemática básica do ensino fundamental para percebermos que a contagem de títulos está inflada e inflamada e somente para um lado.
Mas o que me preocupa é que daqui a alguns anos, quem está contabilizando esses títulos de mentirinha, pode acabar “se equivocando” novamente na matemática e se assumir como campeão dos festivais de 2020 e 2021, quando todos nós sabemos o que aconteceu nesses tristes anos. Ou simplesmente saltar novamente, escolhendo de seu imaginário, quantos títulos quer que acreditem que tenha.

E assim, cada um com seu cada um, o que não pode acontecer é a imprensa, a academia e até mesmo os torcedores do próprio Caprichoso acreditarem nessa lenda sem cabimento e fundamento.

Por isso, se faz justa e necessária a recontagem.

Já passou e muito o tempo para que o Boi Caprichoso assuma as rédeas dessa sua parte da história e a conte dentro de seu lugar de fala, legitimamente, sem permitir que seu adversário propague sua versão, que, aliás, encontra-se totalmente desconexa com a realidade, sem qualquer base, ignorando até mesmo o emprego da matemática básica e desrespeitando a história não somente do Boi Caprichoso, mas do próprio festival.

São mais de 50 disputas, aqui não explorarei cada uma dessas disputas, somente as mais polêmicas e as que buscam a correção da contagem de títulos.

Para facilitar a contagem, a cada virada de década eu criei um painel com as parciais.


O COMEÇO DE TUDO

1965
Os bois sequer foram convidados
O primeiro festival folclórico de Parintins foi organizado pela Juventude Alegre Católica (JAC), sob liderança de Raimundo Muniz, Xisto Pereira e Lucinor de Souza Barros. Eles reuniram os mais diversos grupos folclóricos da cidade e das comunidades vizinhas, com o pontapé inicial no dia 12 de junho de 1965. O festival durou até o final do mês lá na praça da Catedral de Nossa Senhora do Carmo. Todos eram apenas convidados, sem qualquer disputa. Se tratava apenas de um festival ainda estilo arraial, com o intuito de arrecadar dinheiro para a obra da catedral de Parintins. E era da mesma forma como tantos festivais que acontecem até hoje, em que os grupos folclóricos participam apenas para entreter e atrair o público que vai consumir nas barracas de comida e brincadeiras juninas. Existem relatos escritos que neste primeiro ano, os bois não foram sequer convidados por receio de algum confronto mais violento, haja vista que nessa época ainda era comum que os encontros deles rendessem muita confusão e terminassem, por diversas vezes, na delegacia.


1966
Participações sem disputa
Neste ano há o consenso de que os boi foram convidados convidados para a festa, com pedidos de que não criassem confusões. Justamente por esse receio, não falou-se em disputa e tampouco eles tinham a obrigação de se apresentarem. Quando apareciam era somente por uma hora e em dias esporádicos e nunca no mesmo dia para evitar as “tretas”. E os bois ainda preferiam as brincadeiras de rua, já que as visitas nas casas e, no caso do Caprichoso, nos terreiros e quintais ainda rendia alguma ajuda financeira para manter a brincadeira. Ainda era um ano particular pois, o Caprichoso estava sediado no Aninga e para ir se apresentar no festival era necessária toda uma logística. Ninguém do boi tinha carro ou outro meio de transporte, tampouco podia contar com poderosos padrinhos na cidade para sequer fretar uma carroça. Era impossível levar o boi e todos os brincantes a pé do Aninga até centro da cidade somente para essa apresentação e trazer de volta. Alguma oralidade afirma que nesse ano de 1966 já teria ocorrido a primeira disputa, no entanto essa informação conflita tanto com os relatos dos próprios criadores do festival, quanto de alguns registros que citavam o temor de os bois se encontrarem e se digladiarem no meio do público do recém nascido festival folclórico. Uma confusão assim poderia ter feito o festival ter continuado sem os bois e, provavelmente, hoje você nem estaria lendo esse artigo.


1967
Caprichoso
Nesse ano, além das apresentações esporádicas, ficou acordado que os dois bois iriam fazer a apresentação do dia 24 de junho no festival, que era o dia da saída dos bois para pagarem suas promessas e pelo fato de que o festival era, em parte, promovido pela igreja católica. Após as duas apresentações do dia 24 de junho, se aproveitando da rivalidade entre os bois, o mestre de cerimônias do festival resolveu pedir ao público que decidisse, na base de aplausos, quem teria se apresentado melhor. Aconteceu que público presente azulou, fazendo o povo azulado voltar para o Aninga feliz da vida. E é a partir daqui que se consideram O COMEÇO DE TUDO. Não somente pela primeira vitória que se tem registro, tampouco pela apresentação quase que ordeira dos dois rivais, mas da primeira Fake News entre os bumbás.

Explico: quem mora no interior do Amazonas sabe que até hoje a notícia corre mais eficientemente pelas rádios. Agora se imagine na Parintins de 1967 onde praticamente só existiam as rádios para informar ou, no caso, desinformar. Imagine agora que o locutor do mais popular programa de rádio da cidade era um dos poderosos padrinhos do Garantido e acordou no dia seguinte ainda contrariado pelo resultado da noite anterior mas tinha de ir na rádio dar as notícias. O que ele fez? disse na rádio que o boi apadrinhado por ele havia sido o mais aplaudido e por isso tinha sido o vitorioso. Resultado? A imensa maioria da cidade conheceu e repetiu uma versão que na consciência popular acabou se tornando uma verdade e aqui temos o primeiro “equivoco” na contagem. Mas pode anotar: 1967, não existiu disputa oficial, ainda assim, se for para considerar um ano de disputa, pode marcar uma estrela bem azulada e merecida para o povo caprichoso que saiu do Aninga, com todas as dificuldades para se apresentar no centro de Parintins!


1968
Garantido
A primeira disputa oficial, com a chancela da JAC. O que aconteceu no ano anterior deu o que falar na cidade toda e, para evitar o mesmo problema, a organização do festival resolveu chancelar a disputa, ou seja, com entrega de algum troféu para que quem ganhasse, tivesse como comprovar sua vitória. O que os organizadores não contavam era com a malandragem do Garantido. Sabendo que a disputa era na base de aplausos, os padrinhos do Garantido levaram várias pessoas somente para reforçar os aplausos e gritos a seu favor. O esquema deu certo e assim eles venceram aquela que ficou conhecida como a primeira disputa oficial do festival.


1969
Caprichoso
A notícia da esperteza do contrário se espalhou na cidade, já que eles sequer escondiam como tinham agido, ao contrário, saiam às ruas se gabando do feito. Então nesse ano o Caprichoso incentivou e convidou os familiares e amigos dos brincantes a participarem. O boi preto contou também com o apoio do público neutro e de uma melhor apresentação para sagrar-se campeão, superando os aplausos do público plantado pelo contrário.

Importante frisar que o concurso dos Bumbás já era um concurso à parte dos demais concursos de quadrilhas que já aconteciam nos mesmos moldes (aplausos). Por conta dos artifícios criados pelos padrinhos do Garantido, os organizadores perceberam que os demais agrupamentos folclóricos começariam a fazer o mesmo, com isso resolveram criar corpos de júri para tornar as disputas mais justas.

PLACAR DE 1967 ATÉ 1969
CAPRICHOSO 2 x 1 GARANTIDO
3 DISPUTAS

1970
Garantido
O fato relevante desse ano é que foi criada uma comissão julgadora que avaliavam seis itens: 1) evolução do boi; 2) rainha da fazenda; 3) Pai Francisco; 4) Mãe Catirina; 5) Figuras engraçadas e; 6) Opinião pública (na base dos aplausos).


1971
Garantido


1972
Caprichoso


1973
Garantido


1974
Caprichoso


1975
Garantido
Nesse ano festival passou a ser realizado extra oficialmente pela prefeitura, que mudou o local para a quadra do Centro Comunitário Esportivo (CCE).


1976
Caprichoso
Foi o último realizado na quadra do CCE.


1977
Caprichoso
Em 1977, via o decreto 02/77-PGPMP, assinado pelo prefeito Raimundo Reis Ferreira, a prefeitura assumiu oficialmente a organização do festival folclórico e o levou para o Parque das Castanholeiras (Ginásio Poliesportivo Padre Silvio Miotto), sendo vencido pelo Caprichoso que conquistava, pela primeira vez, dois títulos seguidos, o que gerou muita confusão por parte do Garantido que já havia sido bicampeão em 1970 e 1971. Era o ano de inauguração da Avenida Amazonas, que foi toda quebrada pelos brincantes do Garantido assim que o resultado oficial foi corrigido e divulgado. Sim, pois, inicialmente a coordenação do festival havia declarado o Garantido como campeão, inclusive tendo entregue a taça. Mas na recontagem das notas o engano foi desfeito e o Boi Caprichoso foi o vencedor, o que foi suficiente para o ato de vandalismo dos encarnados, que depredaram toda a Avenida Amazonas e puseram ao chão quase que toda a vegetação e mudas de árvores plantadas. Jamais devolveram o troféu.


1978
Caprichoso (WO)
O festival caminhava para mais uma disputa normal, mas acabou na primeira e única vitória por W.O. da história dos festivais. O Garantido, alegou que o Parque das Castanholeiras não era um “campo neutro” e que ficava no reduto azulado, por isso não se apresentou para a disputa. Mas para não ficar atrás e por que muitos brincantes bancavam a própria fantasia, o que poderia gerar uma grande confusão, o Garantido resolveu organizar o próprio festival e se apresentou numa quadra onde hoje é o Ilha Verde. Para seu festival particular, convidaram para disputa um outro boi. O Campineiro que nem de longe possuía recursos, brincantes e sequer torcedores suficientes para uma disputa justa, ainda que nesse festival paralelo e não oficial. Agora, como 1978 virou um ano do Garantido? Simples, lembram dos padrinhos vermelhos, donos de programas de rádio? Repercutiram a conquista de seu boi no festival paralelo como se fosse uma disputa oficial. Até hoje contam que seria oficial por ser realizado pela JAC, ignorando o fato de que desde 1977, o festival era organizado oficialmente pela prefeitura e que, nesse ano, a exemplo dos anos anteriores, organizou e realizou o festival oficial no Parque das Castanholeiras, onde o Caprichoso fez sua apresentação e levou para casa o título de campeão do festival oficial daquele festival, por W.O., sagrando-se o primeiro boi tricampeão da história dos festivais.


1979
Caprichoso
Para comportar um público cada vez maior e comercializar ingressos para o festival como uma forma de ajudar as agremiações (não somente os bois, mas todos os agrupamentos folclóricos), a organização decidiu levar o festival para o estádio Tupy Catanhede, montando tablado sobre o campo. Com a venda de ingressos, o Garantido adotou o estádio como reduto neutro e encarou a disputa. Mas pelo quarto ano seguido o Caprichoso venceu a disputa, tornando-se o primeiro tetracampeão da história do festival, encerrando assim a década de 70.

Um dos fatores para a mudança ao estádio é que era possível cobrar pelos ingressos e esses valores eram importantes para os bois pagarem por suas apresentações, mesmo que houvesse polêmica quanto à divisão do dinheiro igualitariamente entre todas as agremiações folclóricas, inclusive com os grupos folclóricos que pouco atraiam público. Fato relevante: foi o primeiro ano em que o Mestre Jair Mendes fez uma alegoria. Como não era item de julgamento, então não salvou o Garantido da derrota, mas plantou uma semente que rende frutos até hoje para os artistas parintinenses. Embora também tenha plantado uma outra semente na cabeça do Mestre Jair, que culminaria em uma sequencia de vitórias do Garantido.

PLACAR DE 1970 ATÉ 1979
CAPRICHOSO 08 x 05 GARANTIDO
13 DISPUTAS

Os anos 80 chegaram e depois de engolirem quatro títulos seguidos o Garantido estava sedento por vitória, mais que isso, queriam vingança. Queriam mais do que o tetra campeonato conquistado pelo Boi Caprichoso, queriam o tão famoso pentacampeonato, pois até então…

NUNCA HAVIA EXISTIDO UM PENTACAMPEÃO!


1980
Garantido
Garantido venceu interrompendo um ciclo de vitórias do Caprichoso, mas o que quase ninguém conta é que, antes do festival de 80, depois de 04 títulos seguidos do Caprichoso, o Garantido não queria participar. Por conta disso, o então prefeito, Raimundo Reis chamou o pessoal do Garantido para ouvir as condições que o fariam participar da disputa. Jair Mendes relata que ele, por ser na época o único artista na Comissão Organizadora, como condição obrigatória para a participação do Garantido no festival, ele estipulou uma lista com 36 itens a serem julgados, dos quais ele sabia que eram os pontos fortes do Garantido.

Para corroborar com o relato de Jair Mendes, temos um registro em ATA da Câmara Municipal de Parintins (CMP) com três pontos relevantes:

  1. O vereador José Maria Pinheiro tocou no assunto da divisão das verbas para as agremiações, que os bois levavam a maioria do público pagante mas não recebiam proporcionalmente. Esse tema ia ter desdobramento importante para o ano de 1983.
  2. Solicitou o envio de Votos de Congratulações para a professora Maria do Carmo Gadelha, que então estava à frente do Boi Caprichoso, num registro histórico, sobretudo por se tratar de uma mulher no comando de uma agremiação folclórica vanguardista!
  3. Falou que o título de 1980 foi roubado (palavras dele) e o Vereador Geraldo Medeiros chegou a acionar o Prefeito, na presença de Ruy Mendes, para que fosse nomeada outra comissão julgadora, e que não foi atendido.

Ata de 37ª sessão ordinária do segundo período da Câmara Municipal de Parintins, realizada em 22 de agosto de 1980.

(…) o edil José Maria pediu ainda que o Sr.Presidente enviasse a professora Maria do Carmo Gadelha, votos de Congratulações pelo Grupo Folclórico do Bumbá Caprichoso em seu nome particular. Falou que ainda em agosto lembram os fatos do Festival 80 que deixou de ser representado no Estádio para ir até a Justiça
falou que a Direção maior desse grupo, tem que enfrentar com ignorância e com ódio em forma de pagamento pelo grande trabalho que tiveram os dois grupos Caprichoso e Garantido que levaram a maior renda para o Estádio e receberam apenas Cr$ 60.000,00 – (sessenta mil cruzeiros) o que não dava nem sequer para o gasto que fizeram para a apresentação da primeira noite. Lamentavelmente não se sabe em que foi gasto o dinheiro que foi apurado.
Falou que o grupo teve na professora Gadelha um baluarte e que o título foi roubado e até agora ainda se vê a injustiça. Falou que não se briga com o povo e nem se brinca, falou que a Direção maior presta solidariedade e o Repúdio nos que a acusam. Em aparte o edil Geraldo Medeiros, falou que no dia 30 (trinta) de junho, chamou o Sr. Prefeito e na presença do edil Ruy Mendes e disse que o povo não estava satisfeito, e pediu que nomeasse outra Comissão e a resposta que teve é que ele não voltaria atrás. (…).
(Livro de Atas de 1979- 1980, p. 130).

1981
Garantido
A polêmica comissão julgadora de 1980 continuou suas atividades para este festival e o Garantido seguiu beneficiado pelos 36 itens de disputa que ele mesmo escolheu para competir.


1982
Garantido
A polêmica comissão julgadora de 1980 continuou suas atividades para este festival. A única mudança nesse ano foi de local: O Festival foi realizado no aeródromo (área onde hoje fica o Bumbódromo). O Garantido sagra-se o segundo boi tricampeão da história dos festivais.


1983
sem disputa
Seria o ano em que o Garantido, caso vencesse, empataria em recorde de vitórias consecutivas com o Caprichoso. E aqui, embora o contrário diga que o Caprichoso fugiu da disputa tal como o próprio Garantido o fez em 1978, a retirada do boi Caprichoso do festival já estava anunciada e decidida vários meses antes do festival e não teve absolutamente nada a ver com o contrário. O problema aconteceu diretamente entre o Caprichoso e o Prefeito Gláucio Bentes Gonçalves e seu vice, o Sr. Eduardo Costa Ferreira. O embate iniciou logo no primeiro ano de mandato deles (à época eram seis anos de mandato).

Segundo registros da época, o presidente do Caprichoso era o Sr. Geraldo Medeiros e nem ele e nem toda a direção do Caprichoso aceitaram que o vice-prefeito comandasse a organização do festival. Eduardo Costa era Garantido declarado e chegava a se apresentar no tablado com seu boi. o Caprichoso já vinha sofrendo há alguns anos com a comissão organizadora polêmica desde 1981 decidiu seguir protestando. Chegaram a pedir do prefeito a substituição do vice mas não foram atendidos. Além desse entrevero, somou-se com a promessa do novo prefeito de retirar o festival do estádio, deixando de cobrar ingressos, tirando verba dos bois sem sequer oferecerem uma contrapartida. O prefeito alegava que a cidade tinha outras prioridades, problemas mais sérios para resolver e que não tinha motivos para patrocinar os bois. Mas não deixava de contratar artistas de fora e pagar caro por eles (Caso similar ao ano 2016, do que fez o então governador José Melo). Essa crise reverberou em toda a cidade, ganhando embates nas rádios e contornos de quebra de braço quando o Caprichoso anunciou que não participaria do festival caso a prefeitura não repensasse a comissão e os ingressos. Os temas acabaram gerando discussões na Câmara Municipal de Parintins, com diversas falas devidamente registradas em ATA, como a fala do vereador Orlando da Silva Hatta:

[…] Falou sobre o Folclore que acha, em termos de educação e cultura, não aceita o desentendimento que houve entre a Comissão do Boi Caprichoso e do Sr. Prefeito Municipal, achando que não houve o diálogo tão necessário às pessoas de brios e bom senso para que houvesse o entendimento tão necessário. Falou que se digladiaram através da Rádio em verdadeiro desrespeito ao povo de Parintins. Falou sobre o dinheiro gasto com os cantores importados que levaram vários milhões que deveriam ficar em Parintins, o que vai quebrando a força do festival […] (Livro de atas 1982-1983, p. 130).

Também o vereador Admilson Duarte teve registrado seu discurso em plenária sobre entrevista que concedeu a uma emissora de rádio da Cidade de Parintins falando sobre a rusga entre Caprichoso e a Prefeitura.

[…] Falou deu entrevista ao Repórter da Rádio Alvorada e disse que está achando estranho o envolvimento do Poder Público no Festival da maneira como está acontecendo. Falou que existem problemas mais graves a serem tratados. Disse que o Sr. Vice-Prefeito está tomando caminho que não deve. […] existem necessidades mais prementes a exemplo os buracos das ruas. Falou que o Vice-Prefeito deseja superar Grupo Folclórico com a sua incoerência. (Livro de atas 1982/83, p. 116, frente e verso)

O vereador Admilson ouviu em resposta o colega da câmara, José Maria:

[…]Em aparte o edil José Maria que ele (Admilson) não é parintinense e fica a causar problemas acusando alguns parintinenses da Direção do Caprichoso. […] (Livro de atas 1982/83, p. 116, frente e verso)

Já o vereador e presidente da comissão de constituição e justiça, Raimundo Desterro chegou a dizer que a briga estaria até dividindo as famílias (Livro de atas 1982/83, p. 116, frente e verso)

O Vereador José Maria Pinheiro se pronunciou novamente em favor do Caprichoso com um discurso forte, sobretudo com o pedido de alguns vereadores para proibir que qualquer tema do Festival fosse discutido na Câmara:

[…] Falou que no Regimento não tem nenhum item que proíba o vereador falar. Falou que a Direção do Boi Caprichoso vem brigando contra um prepotente e incapaz que é a vergonha dos filhos desta terra. […] (Livro de atas 1982/83, p. 119 verso)

Depois de tanta polêmica o Caprichoso manteve-se irredutível em sua decisão, ferindo o orgulho dos mandatários, fazendo com que eles convidassem o boi Campineiro para tentar tapar o buraco deixado pela ausência do Caprichoso. Reconhecendo a enorme desigualdade entre as agremiações (Campineiro e Garantido), a prefeitura, pela primeira vez na história, acabou repassando verba de patrocínio para o Campineiro, num vão esforço para equilibrar a apresentação entre os concorrentes, além da teimosa tentativa de manter alguma disputa no festival daquele ano, já que a Comissão do Caprichoso insistia na tese de que sem o Caprichoso, o festival não teria a mesma força e que seria impossível haver disputa.

A atitude da prefeitura em patrocinar o Campineiro, ao invés de jogar uma pá de cal no Caprichoso, acabou agravando ainda mais a polêmica pela cidade, sobretudo porque sabia-se que patrocínio da prefeitura não seria e não foi suficiente para equiparar o Campineiro ao Garantido, tornando a disputa desigual, mas também ao insistir nessa teimosia ficava claro que o objetivo não era somente dar uma lição, mas atropelar o boi azul que já contava com torcedores e colaboradores fieis em toda cidade que, claro, se revoltaram contra a prefeitura. Como era lógico, o investimento no Campineiro não surtiu o efeito desejado pela Prefeitura que, para tentar acalmar a crescente pressão da sociedade, inflamada pela oposição que ocupava a tribuna da CMP e as rádios, a organização acabou por decidir que não haveria disputa, mas que os bois Campineiro e Garantido se apresentariam.

Aqui um parêntesis de um registro encontrado sobre o Campineiro nessa disputa. Os próprios dirigentes do campineiro registraram que eles não tinham torcida e com isso, quando a apresentação do garantido acabava, todos iam embora e restavam meia dúzia de pessoas na arquibancada.
(todas as fontes de pesquisa, estão ao final deste artigo)

Ou seja, com a história trazida à luz, temos aqui duas falácias caindo por terra:

  1. O Caprichoso não fugiu da disputa (como o Garantido o fez em 1978), mas iniciou uma disputa contra a prefeitura da qual restou comprovado que seu movimento já estava consagrado na cidade e sua participação era sim vital para a continuidade do festival. Já naquela época, o festival atraia turistas e visitantes cujo interesse era a disputa entre Caprichoso e Garantido.
  2. Com a disputa cancelada pela Organização do festival, não houve, portanto, nenhum vitorioso, desta forma o Garantido não conquistou seu tetra campeonato e, por tabela, é inexistente e meramente falaciosa a conquista de um pentacampeonato no ano seguinte.

1984
Garantido
A resistência do Caprichoso no ano anterior surtiu efeito em partes. Embora o embate contra o prefeito ainda viesse a render outra derrota, mas ficou registrado também em ATA da CMP que o prefeito foi dissuadido de sua ideia anterior e iniciou trabalho em prol dos bumbás, retornando com a ideia de venda dos ingressos para ajudar na arrecadação financeira, como pode ser conferido no registro do Livro de Atas 1986/87, p. 18, frente e verso

[…] o edil Raimundo Desterro […] Apresentou o Projeto de Lei nº 003/86 – CMP – concede o título de Honra ao Mérito, ao Sr. Gláucio Bentes Gonçalves, Prefeito Municipal de Parintins, e dá outras providências. Falou de uma pessoa que quando erra e querendo acertar, Sr. Gláucio Bentes Gonçalves, que pela sua atitude e evitando a má querência dos bois de Parintins. desejando que o Festival seja brilhante, deu os camarotes e cadeiras aos bois, para ajudá-los. […]


1985
Caprichoso
Depois de um longo hiato, o Caprichoso reconquistou o título e começou seus preparativo para os incríveis anos 90.


1986
Garantido


1987
Caprichoso


1988
Garantido
Primeiro ano do bumbódromo


1989
Garantido

PLACAR DE 1980 ATÉ 1989
CAPRICHOSO 10 x 12 GARANTIDO
22 DISPUTAS

1990
Caprichoso


1991
Garantido


1992
Caprichoso


1993
Garantido


1994
Caprichoso


1995
Caprichoso
Como fato relevante, a partir desse ano, o Governo do Estado assumiu a organização do Festival.


1996
Caprichoso


1997
Garantido
O Caprichoso venceu nos pontos dos jurados, porém foi penalizado em 10 (dez) pontos em razão de seu apresentador ter feito um agradecimento ao então Governador, o Sr. Amazonino Mendes.
Estava no protocolo os dois bois fazerem o mesmo agradecimento, anulando as penalidades. Porém o Garantido descumpriu o acordo e exigiu a penalidade, conquistando o campeonato com essa impugnação.


1998
Caprichoso
Arlindo Junior foi Apresentador e Levantador no mesmo festival em todas as noites, vencendo nos dois itens.


1999
Garantido
Primeiro ano que se tem registro de participação do que viria a se tornar o agrupamento dos deltas no Garantido.

PLACAR DE 1990 ATÉ 1999
CAPRICHOSO 16 x 16 GARANTIDO
32 DISPUTAS

2000
Caprichoso e Garantido
O primeiro e único empate da história do festival, que foi sacramentado de uma forma polêmica durante a apuração. Acredite se quiser: teve gente que arrancou folha do caderno de notas e saiu correndo para evitar a vitória do Caprichoso.


2001
Garantido


2002
Garantido


2003
Caprichoso


2004
Garantido


2005
Caprichoso


2006
Garantido
Último ano do Arlindo Jr. como Levantador de Toadas. Após o festival, Arlindo Jr. foi desligado do cargo pelo Conselho de Artes e pelo Presidente da época, Carmona Oliveira. Arlindo soube pela imprensa


2007
Caprichoso


2008
Caprichoso


2009
Garantido

PLACAR DE 2000 ATÉ 2009
CAPRICHOSO 21 x 22 GARANTIDO
42 DISPUTAS (+1 empate)

2010
Caprichoso
Primeiro ano do David Assayag como levantador do Caprichoso.


2011
Garantido


2012
Caprichoso


2013
Garantido


2014
Garantido


2015
Caprichoso


2016
Garantido
O festival mais atacado de toda a história. Nesse ano, o então governador, José Melo, resolveu cortar as verbas do Festival de Parintins (e de tantos outros), sob a desculpa de que precisava gastar dinheiro com a saúde e não com festa. Inicialmente o discurso agradou uma parte ignorante da população, que nunca procurou saber do retorno financeiro que um festival do porte de Parintins entrega não somente para o município, mas para o próprio Estado. Não demorou muito, pessoas ligadas ao governo, fornecedores e o próprio governador foram presos por corrupção de desvio de dinheiro adivinhem onde? pois é, justamente na pasta da saúde. E viva a hipocrisia dos que apoiaram o crime contra a cultura do Amazonas e ajudaram apoiando outro crime, mais grave ainda, contra a saúde da própria população que, anos depois, enfrentaria uma pandemia.


2017
Caprichoso


2018
Caprichoso


2019
Garantido

PLACAR ATÉ 2019
CAPRICHOSO 26 x 27 GARANTIDO
52 DISPUTAS (+1 empate)

2020
Não houve festival ou disputa
Por conta da pandemia, foi feita somente uma única apresentação, com simples transmissão pela internet e TV Acrítica.


2021
Não houve festival ou disputa.
Por conta da pandemia, foi feita somente uma única apresentação, com simples transmissão pela internet e TV Acrítica.


2022
Caprichoso


2023
Caprichoso


PLACAR ATÉ DE 2020 ATÉ 2023
CAPRICHOSO 28 x 27 GARANTIDO
54 DISPUTAS (+1 empate)


Não tentei detalhar a história recente pois temos vastos materiais, inclusive vídeos no YouTube das apurações de pelo menos duas décadas, além de os troféus estarem melhor preservados e com o grafismo/marcação de títulos e datas muito mais legíveis.

E SE, ainda depois de todo o exposto, o contrário ainda quiser chorar pelos títulos de 1983 e 1968, ainda assim seriam 26 títulos para o Caprichoso e 29 títulos para eles. Ou seja, nem no MELHOR DOS CENÁRIOS, não existem esses trinta e tantos títulos, É SÓ FAZER AS CONTAS!

Repetir uma mentira por tanto tempo pode até fazer todos acreditarem como se verdade fosse, mas não faz com que a mentira se transforme em verdade.

Fontes:

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